Este ano fomos pegos de surpresa com algo totalmente imprevisível, a pandemia da COVID-19. Desde então, tudo mudou. Tivemos que tomar medidas drásticas para que o vírus não circulasse e a principal medida foi nos isolarmos em nossas casas, sem convívio social.
Em um primeiro momento, acredito que todos pensaram que o isolamento social seria apenas por cerca de duas semanas ou no máximo um mês e tudo já voltaria ao normal. Contudo, estamos nessa situação no Brasil há quase cinco meses, sem previsão de voltar à normalidade, ou até, assumirmos definitivamente um nova forma de viver.
Pois bem, a rotina passou a ser acompanhar as notícias pela televisão e pela internet, em relação ao mundo, ao nosso país e à nossa cidade. O que vemos são matérias ligadas à expansão do vírus, números de contaminados, de mortes, pesquisas concentradas nos temas econômicos, sociais, antropológicos e no tratamento da doença em si. Mas curiosamente, dados dos “efeitos colaterais” dessa pandemia, quase não se veem. Quando se trata desses efeitos gerados, falamos principalmente do impacto na saúde mental, como transtornos de ansiedade, estresse, angústia, depressão e o alto índice de suicídio. Segundo dados trazidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), os casos de suicídio e de tentativa de suicídio aumentaram com a pandemia de corona vírus no Brasil. Mesmo que já fosse esperado um crescimento deste índice, devido à incerteza trazida pela COVID-19 e à solidão ocasionada pelo isolamento social, tal situação é muito preocupante, pois ultrapassa a expectativa consideravelmente. Os aspectos relacionados ao aumento no índice de suicídio são violência doméstica, isolamento, solidão, luto, consumo de álcool e drogas, desemprego e problemas financeiros, incerteza sobre o futuro, questões referentes à divulgação midiática (pânico, FakeNews, notícias sensacionalistas) e estigma de pessoas e familiares que já foram contaminados. Nesse cenário, o que fazer para cuidar da nossa saúde mental, de forma preventiva? O primeiro passo é identificar como você se sente, quais sintomas tem sofrido com frequências nos últimos tempos, procurar ajuda, seja falando periodicamente com amigos e familiares via internet, acompanhar notícias dadas por fontes seguras, checar as mensagens que circulam pela internet, evitar válvulas de escape nocivas como drogas e excesso de bebida alcoólica e se já fizer uso de algum psicofármaco, não interromper o tratamento, sem orientação médica e se for o caso, buscar ajuda profissional.
Caso ainda não saiba, tanto o Conselho de Psicologia quanto o de Medicina apoiam o acompanhamento do paciente de forma online. Mas se você não se adapta ao novo modelo de atendimento, muitas clínicas estão em funcionamento, tomando todos os cuidados necessários, em prol do atendimento dos pacientes em sofrimento. A psicoterapia é um espaço de segurança e conforto, onde se constrói uma relação empática e de confiança com o profissional, que lhe permite expressar aquilo que sente e deseja, sem julgamentos, expressar suas angústias, dores e sofrimentos, redescobrir significados e sentidos para a sua vida e ser acolhido integralmente. Como forma de chamar a atenção para o assunto, foi criada a campanha Setembro Amarelo, iniciada no ano de 2015, em comemoração ao Dia do Combate ao Suicídio, que já existe desde 2003. Neste ano esta campanha se faz ainda mais necessária, diante do cenário caótico trazido pela pandemia e de seus consequentes reflexos na saúde mental da população.
No Brasil, o suicídio já é considerado um grande problema de saúde pública, estima-se que 32 pessoas cometam suicídio por dia em nosso país e no mundo é a terceira maior causa de morte. Portanto, é importante se perceber e perceber quem está em sua volta, estar em alerta para sentimentos intensos como tristeza, raiva e sofrimento emocional, histórico de suicídio na família, violências, transtornos mentais e uso de álcool e drogas, apatia, desinteresse, desespero e desesperança em relação à vida, distanciamento e isolamento afetivo, falta de suporte e contato social e interesse em meios para efetivar o ato suicida e/ou aquisição de materiais que possam ser utilizados para tirar a própria vida. Além do exposto acima, devemos nos atentar a pensamentos e atitudes que estão relacionados à exposição intencional, de forma consciente ou não, ao risco de contágio da COVID-19, levando em consideração o momento atual da crise pandêmica. Pode ser que a pessoa esteja desejando e/ou planejando intencionalmente se contaminar com a doença para que, assim, possa morrer. Atente-se para si e para quem está em sua volta.
ARIANA GONÇALVES
PSICÓLOGA
Profissional integrante da equipe de psicologia do SecoviMed.